domingo, 21 de outubro de 2012

"Quase Novembro" (Sannio)

Não encherei, meus bolsos de pedras e me jogarei no rio.
Aonde eu moro não tem rio.
E a única voz, que eu realmente escuto, continua sendo a minha.
Uma fase de super-homem, depois de uma fase de super-merda.
Não tenho bilhetes de despedidas para deixar.
Nem para quem deixá-los.
Sou ingrato com o mundo, nesse desabafo cheio de paradóxos, metáforas e epifanias.
Ainda sinto  a voracidade da vida em minhas veias.
E é o que me mantém aqui.
Esta não é uma despedida.
Nem realmente a minha vida.
Chamarei de "querida", todas as horas a me darem conforto.
Ouço agora,"Teatro dos Vampiros", enquanto repousa em meu peito um livro da Virgínia Woolf.
"E mesmo assim, não tenho pena de ninguém..."


sexta-feira, 19 de outubro de 2012

"Um Sonho Qualquer" (Sannio)

Sentado vi você se aproximar.
E você se sentou tão próxima.
Como costumava fazer antes.
Apesar, de tudo agora ter mudado.
Seu cumprimento rápido.
Meu ardil infeliz, na tentativa infantil de acariciar sua nuca por um instante.
- Oi tudo bem? - disse ela.
- Tudo. Tudo bem, né? - Respondi eu. 
E me calei praguejando contra mim mesmo.
"Idiota!"
Eu tomava água.
Ela nada.
A mesma blusa laranja.
Eu, a mesma  camiseta preta.
E não vi brilho em seus cachos. Todos ordenados(ou quase todos).
Presos em um coque.
"Gostava de ve-los soltos. A sós..."
Brinquei sobre a água ser cachaça.
Só pra ver um sorriso.
Ouvir uma risada curta.
Ser pedante.
E tentar não ser notado por isto.
De todas as minhas tentativas frustradas.
A pior delas foi querer mostrar indiferença.
Como se fosse possível.
Enganava a quem, afinal?
Mas habilmente, mostrei ao menos dignidade.
"Já era um começo!"
Seus olhos percorriam o meu rosto e a minha cabeça, como um parasita sanguinário, acostumado ao hospedeiro.
Conseguia enfim, atenção .
Uma atenção silenciosa e analítica.
E a beleza, sempre guardada para as despedidas.
Foi melancólica e afetuosa. 
Quase familiar:
- Fica com Deus! - ela disse.
De que me adiantava ficar com Ele.
Se em minha cama, já não dormiam mais os anjos.


 

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

"Em Tapes" (Sannio)

A laguna reflete as estrelas, com um brilho ímpar.
Criam apelidos jocozos entre as figueiras.
Deuses momentâneos se levantam.
Aonde a idolatria, já não ouve mais as orações,
dos que se curvavam as imagens dos santos.
A quem Roma manchou com sangue as vestes.
E corrempe ainda hoje os simplórios da fé.
Lugar aonde a inteligência se torna ameaça.
"Se eu gostasse de gaiola, eu nascia passarinho!"
É a visão do oprimido.
Dos noveleiros e fanáticos.
E a arte tenta manchar com seu pus,
o espírito operário.
Criem asas formigas!
Não seriam esmagadas ou queimadas ao sol,
se soubessem realmente do poder que possuem.
Ideologia é liberdade.
Utopia é libertar-nos.
Assassinem o seu buda.
Seja o seu próprio mestre,
Coberto de humildade na sombra,
do que flameja
a liberdade.
Em uma nova idéia.
Um tempo novo.
O capitalismo nos joga para longe de Tapes.
E somos índios longe da praia.
Gritando!