quinta-feira, 30 de abril de 2015

"Orgânica" (Sannio)

Chega de poesias em guardanapos
de desenhos em trapos
de atar os cadarços
e de me mostrares a rua
Chega das tuas
Minha
nossa
Faltou exclamação
Na tua nudez 

Curta os desaforos
na rede
as fugas
da sede
Pontue
os intervalos no pretérito
Nas profecias incertas 
Tens teus castanhos em minha pele
Anestesiando a minha mágoa 

Danças descalças
Na noite despertas
Acende o fogo 
e deitas sem sono
Se divide em fases
Te abres
Me abriga
Naturalmente gozamos 
De lembranças futuras 














quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

"Ruínas" (Sannio)

Não há nada mais triste do que um homem em ruínas.
Não...Não há!
A mulher pode reconstruir-se e ainda que não queira admitir(inclusive pra si mesma), sempre haverá alguém interessado. Mesmo que este alguém, ela repudie. Haverá alguém.
O homem comum, no entanto, despercebido de seus próprios encantos, parece contentar-se com o que a vida lhe oferece. E abocanha faminto o resto do prato mal lavado que o alcançam.
E assim ele segue, em patéticos tropeços emocionais e irascíveis tentativas de mostrar-se simpático.
Tal homem, quando destruído, olha para o fundo do copo de cerveja, tentando ali, achar alguma esperança espumante. Tolo! Desde a compra da sua cerveja transgênica brasileira, até o consumo da droga socialista do homem latino sul americano. Doente demais para perceber que está doente. Orgulhoso demais para mudar os seus velhos hábitos.
Logo sarará. Bom, os mais capacitados sararão. No Saara infantilmente versado de sua opulência, jaz oculta, masculina. Levantará a bunda do banco úmido de madeira e buscará uma nova conquista.
E por um tempo, encontrará felicidade.
Até invariavelmente, ser destruído de novo.


sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Sem Título (Sannio)

Você vai viajar
Vai ver o mar mais uma vez
E se pudesse, amaria
Mas não pode
Tens de partir
E consigo, todos os cacos da partida
A perfurar as mochilas e as malas
As despedidas e os abraços
Os beijos
Volta a vida revolta
E resmunga, com ela comunga
Os interesses que não são os seus
Sente-se culpada por pensar em si mesma
É ainda a mesma melodramática egoísta
Arruma as coisas sobre as coisas
As pessoas em contatos
Os contatos já tão raros
São tão caros
Quando resolvem partir, também
Então você corre
Em um círculo interminável
de irracionalidade
Buscando, preencher teu imenso vazio
Fique
Só desta vez
Porque todo o seu caminho
Só aponta a mesma fuga
E nem todo sal do mar
Vai te fazer sentir mais limpa


segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

"Não Direi Mais Nada" (Sannio)

Tenho um segredo pra você
E espero que leia um dia
Eu quis ditar, eu sei...
Andava pela rua
E sempre a de baixo
De volta da festa
Mijava na sua parede
Lá dentro ouvia gritos
E eu queria ajudar, de algum jeito
Eu nem sabia, ainda
que você morava ali
O andar aqui tão bêbado
O rir da elite falsa
Estão todos quebrados
Com medo que alguém
vá descobrir
Voltava aquela rua
E as discussões que se seguiam
Ouvia uma criança chorar
 "Tudo bem, eu estou aqui!"
Ainda não sabia...
Mas me entristecia e a sobriedade não demorava
a  de novo fingir
Então um belo dia
Eu conheci aquela menina
Lia envolvida, colorida e não parecia margarida
Tão cacheado, eu sei...
Você estava ali
Quisera não ter ouvido
que me achava um velho
Quisera ter esquecido do teu chorar antigo
E que eu me fiz amigo
Pra você dispor
Suas estúpidas companhias
Acham que eu me acho
Meu bem, eu não...
Não era por mim que eu procurava
Hoje, não passo mais
na sua velha calçada
Ninguém tem culpa disso
E eu não direi, mais nada
Eu não direi mais nada
Eu sinto muito,
meu bem,
que isso seja adeus!



sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

"S" (Sannio)

Segue, soldado, solícito, serve
Suga, seu sonho, sonhado
Sacia, saudade semântica
Sexta, santa, some
Simples, sossega, suando
Seco, surpreende, sinfônico
Sônico, surdo, suspira
Sentido sumido, supre
Selvagem, sulista, salta
Sozinho, solado, sangra 

terça-feira, 25 de novembro de 2014

"Ratos" (Sannio)





Seus casos não eram mais os ocasos beirados
As escondidas dos corpos dormentes
A fumaça tal qual a serpente
A ondular as notas do som da água
Praia a beijar os seus pés 
Os calos e as cavalgadas na memória
Na torrente irmã do caminho
Não fantasia mais na ilha
Só às vezes
E as outras vezes
Lembrava do farol
Da vela
Do luto
Lembrava da luz
E de um deus esquecido na parede do mocó
Os cacos de telhas quebradas pelos ratos
Os mendigos e os parcos, poucos e pardos
que dormiam em seu telhado
Antes de queimar 

sábado, 22 de novembro de 2014

"Rezuza" (Sannio)

São só reminiscências 
Não há fatos novos
pra contar
Nem tênis de marca
 pra deixar
Eu que não odeio a esquerda
Pois é pra lá
que eu desvio a seta
E eu não sou alpha
Eu não sou nem ao menos betha
A gente tenta de novo
Dessa vez 
A gente acerta
São em fragmentos às minhas confissões
Vocês não tem condições de entender
Pois vocês são só vocês
E eu é que tenho
 que saber
Mas que papo esquizoide
Então: vê se não fode
Não estrague a última dança
Pisando nos meus pés
Pois a lei da vida
Sempre foi 
a lei do revez
Saudades da inocência
Saudades da minha querência
Saudades da hortência 
E da flor
Que já me teve amor
E não é pra fugir do castigo
Não é pra fugir do perigo
É só pra me mostrar: 
"de besta"
"de besta"
"de besta"