sábado, 18 de outubro de 2014

"Sem Título" (Sannio)

Vi de longe, nem cumprimentei
Já faz tanto tempo, eu sei
Andei por aí, sem mais dó 
E quando passas, acompanhada
Finjo que não sei nada 
E até troco de calçada 
Porque sem você, sou bem melhor
Rio, da tua velha conversa
Do teu jeito, sempre com pressa
"Vou ali, mais vou voltar"
E quando repetes as tuas desculpas
Até penso que é surda
Quando digo:"Me deixe em paz"
Siga, com as tuas mesmas mentiras
Espalhadas, junto da vila
Quem te vê, só vê em par 
Pena, 
que já não és mais tão pequena
E ainda que tenhas idade
Nunca soube
 madurar

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

"Marina" (Sannio)

Despertou na cama com o corpo ensopado de suor, nos lençóis também ensopados.Tocou o rosto com a ponta dos dedos. Como se tivesse medo de desmoronar ao toque, de sumir na superfície. Lambeu os próprios lábios. Olhou para o teto e seu espelho, seu reflexo e o seu corpo. Fixou o olhar em seu rosto. E viu-se só. Não tão bela imagem, não tão difícil a vida. Não tão só o quarto. Não tão velho o rosto. Desceu ao pescoço, vislumbrou o corpo. Corpo que agora se ergue da cama. Vida que a espera atrás da porta. Vida que é melhor agora. Agora que está consigo. Com a vida, nem sempre se sente em cumplicidade. Com ela mesma, nem sempre se sente plena, nem sempre se sente só, nem sempre dá importância. 
O que importa?
Se a cama às vezes é o seu oceano.