segunda-feira, 31 de março de 2014

"Todas As Outras Coisas Sobre Mim" (Sannio)

Eu prefiro esconder quem eu realmente sou
Este homem é muito inocente!
Acredita que honestidade, basta para sermos felizes
Pobre coitado!
Já nem cai mais do cavalo
Aliás, nunca soube cavalgar
Vem tropego, chega a dar angústia de se ver
Resolve molhar o pensamento
E é aí, que eu apareço!
E lhe jogo na cara, todos os seus patéticos feitos
Todo o meu escárnio de sua covardia escandalosa
Quebro o espelho
Chuto pra longe os cacos de seu fiasco
E me ponho a rua
Nada como o ar puro fedido a cigarro amassado do bolso
Bebo mesmo, xingo mesmo, inflo o peito
Mas não gasto da prosa, pra me fazer de perfeito
É mais fácil mostrar o diploma entre os quartos
Do que dar-me ao discurso barato
Farto, cumprimento mesmo assim
Até o mendigo que cheira a pinga ruim
Peço meia hora de cerveja
Como um nobre vagabundo
Torno a ser eu mesmo
Fazendo girar o meu mundo
E seguindo faceiro
Não troco o que conquisto
Por um punhado de dinheiro
E se me quiseres
Tem de ser assim
Quase dois de tão hiperativo
Generoso, mas cheio de defeitos
Por uma prenda me ajeito
Limpo o pala 
Fico direito
Pois na esquerda bate o peito
E pra tudo que for verdadeiro
Não questiono
Não discordo
De bem...
Eu aceito!







sábado, 22 de março de 2014

"Crimeia" (Sannio)

Corro da mão que se estende
e aponta a rua
Já conheço o caminho
Ando pela calçada que escolho
Sigo no levar dos meus sonhos
Independo, dependo, norteio
Vou do sul ao meio
De uma ponta a outra
Do lábio a chama
Da brasa a alma
Das cinzas a seda virgem
Leve, voo pelo ar marinho
Vejo o cão correr o gato
E rio sozinho
Deixo passos por terras esquisitas
Donde até a mulher feia, é mulher bonita
Sigo Vadinho, vadio, vigio
Flerto
Presto
Descubro outro horizonte
Subo a pedra
Vejo os montes
Ouço o poeta bêbado
Embebedo o lirismo folclórico
Em melancolia, torno ao bucólico
Rumino
Me mimo
Aprendo
Pouco ensino
E vivo
Vivo
Vivo!


terça-feira, 18 de março de 2014

De Certo (Sannio)

De certo, eu não sei
De onde sou?
Pra onde vou?
O que eu pensei
De certo, eu já sei
Se tive amor
Se há calor
O que eu falei
Métrica fábula
Ancas largas
Gosto das sábias
Da lábia
Trajeto
De certo
Ainda posso te salvar das angústias
Assim que eu me curar das minhas
Eu estive por você
E parti
Quando partistes
Era lindo
Fiquei triste
De certo, me odeias
Não devias
Por que sem nem Deus por perto
Era eu que aportuguesava 
Tal Lisboa
Às promessas d'outros dias 
De certo, pensas que te fiz de tola
Basta lembrar de meu pranto
E repensar
O que quiseres
A opinião que de certo, te calunia
É distante e fria
E pra ti, trago o peito aberto
De certo, esquecestes
É...
Vai ver
De certo
https://www.youtube.com/watch?v=BaoxTAgOcz0 



terça-feira, 11 de março de 2014

"Mãos" (Sannio)

Mãos que seguram outras
que abrem ostras
que quebram
Mãos que abrem portas
Mortas, cerram o peito
Mãos que com as quais eu falo
Cerro o murro no móvel
Enquanto imóvel, apenas aguardo
Se guardo e não falo
Estendo ao toque
Fios enlaçados, do laço que faço, desato outros nós 
Nós...
Apenas gêmeas
Uma acaricia, a outra espreme
Esconde os olhos, os lábios, os ouvidos
Abraça, estende os braços
Um rosto em tuas palmas
Almas
Em linhas brancas
De encontro aos céus
Segurando
Sem te perder
no silêncio 


segunda-feira, 3 de março de 2014

P.S (Sannio)

Só fez vê-la 
E o seu rosto exprimido no travesseiro 
A boca imersa em sonhos molhados
Magoado todo o peito amargo
Mexe o fundo a xícara
Antigo e de pouco açúcar
E as suas pernas espalhadas
que em meu peito trás angustia
O lábio inferior como a procurar um navio
O superior a empinar alguma pipa
E a minha boca aberta, desperta, imita
Dos olhos, um singelo acompanhar
Mas não te podes bailar
Se dormes tranquila
Nem ousas voar
Segura as anilhas 
O sol violenta o quarto
A colher toca as paredes
Seca a garganta, ópio
Late o cão
Volta a sede
Acordas
E tudo em volta se ilumina
Como dói 
Te ver agora apenas
em distante memória
"Senhor Sol
Me dê de volta Virgínia"

http://www.youtube.com/watch?v=fcr2NBBH2k4